quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Onde anda a fé que eu esqueci?

De dentro do Aquário
entre um gole e outro de café, compartilhava o meu silêncio,
enquanto procurava a minha fé.
O meu rosto refletia no vidro,
e do outro lado eu observava um mendigo,
pobre mendigo nobre,
pobre, somos nós,
somos tantos
e mesmo assim por horas conseguimos nos sentir sós.
Um menino de chapéu azul lhe dá um sorriso,
o mendigo retribui,
eles até parecem amigos.
Enquanto uma senhora que vendia seus bordados,
mesmo sentada, seguia sua vida em frente.
E a gente?
que sempre passa apressado, estressado, cansado,
acostumado com aquela cena,
até parece tão pequena.
O mendigo se abaixa
desfaz e refaz o nó de um de seus sapatos, 
o do pé esquerdo, que no direito está calçado.
São dois, são dois os pés direitos,
um marrom e o outro preto,
mesmo assim o mendigo dá o seu jeito.
Veste calça ao avesso,
não possui documento, endereço,
mas nem por isso deve-lhe faltar respeito.
Tomo o meu último gole de café,
e ao mesmo tempo, o mendigo fica em pé,
não pede trocados, troca, sorrisos,
e quando alguém o retribui, ele diz obrigado,
pobre mendigo nobre, ainda é educado.
Com minha xícara já vazia,
eu brinco com a pequena colher,
mexendo o nada, 
e ainda sem fé.
Paralisado eu o observava,
então, ele pega nas patas dianteiras do seu cão e começa a dançar.
Não há som, a canção, parece vir do seu próprio silêncio,
todos o observam, alguns param e até tiram fotos, 
outros não toleram, nem entendem,
até o chamam de louco varrido, 
mesmo assim ele continua,
e agora responde, inesperadamente,
ele vomita poesia, daquela barriga vazia.
Do outro lado do vidro eu não o ouvi, 
mas então entendi,
que ali naquele mendigo andava,
a fé,
que um dia esqueci.

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